terça-feira, 1 de abril de 2014

RESENHA - TODO DIA




Autor: David Levithan

Editora: Galera Record

Nº de páginas: 280
 


Toda manhã, A acorda em um corpo diferente, em uma vida diferente. Não há qualquer aviso sobre quem será e onde estará em seguida. De menina a menino, rebelde a certinho, tímido a popular, saudável a doente; A precisa se adaptar.
Já se acostumou com isso e até criou algumas regras para si. Primeira: nunca se apegar; segunda: jamais interferir. E tudo corre bem... Até que A desperta no corpo de Justin e conhece sua namorada, Rhiannon.
A partir desse momento, as regras pelas quais tem vivido não fazem mais sentido. Porque, finalmente, A encontrou alguém com quem quer ficar; dia após dia, todo dia. Mas como esperar que uma pessoa que sempre viveu uma vida normal possa entender a realidade de A? Ou até mesmo acreditar nela?

     Estamos sempre em busca de algo novo. Não apenas na literatura, mas em todos os aspectos da vida. A novidade nos atrai, nos seduz para a incerteza do que está por vir. Mas há quem acredite que, no mundo em que vivemos, tudo já foi dito e não há como inovar. Algumas pessoas acham que todas as coisas novas que estão surgindo não passam de cópias de ideias que deram certo. Eu acho que desprezar o novo é prejudicial ao próprio indivíduo que o despreza; ele pode estar se privando de descobrir algo único que abrirá sua mente para um universo de possibilidades. Por que estou devaneando dessa forma? Porque “Todo dia”, de David Levithan, é uma prova de que a novidade pode nos trazer agradáveis e profundas surpresas.

     Antes mesmo de começar a ler, já havia percebido o quando esse livro seria intenso e emocionante. Claro que isso não passava de uma intuição. Todas as críticas eram positivas e o tema dessa obra é ímpar. Uma pessoa que troca de corpo todas as manhãs? Eu nunca li nada parecido e, para falar a verdade, antes de ler o livro, não havia entendido direito. Ficava me questionando: Como assim, um corpo novo a cada dia? Ele é um ser humano? É um espírito? O que acontece com as pessoas cujos corpos são habitados por A? Ele se apaixona por uma menina, mas como isso vai funcionar? Essas e outras perguntas me instigaram a ler esse livro, de um autor que eu não conheço direito e com um tema que podia dar muito certo – mas também muito errado.

     A é uma pessoa diferente de todas, pois acorda, todo dia, em um corpo diferente. Ele assume a vida e as memórias de cada uma dessas pessoas por apenas um dia e faz o possível para se adaptar e não interferir. Ele não pode escolher em que corpo acordar, e a ideia de prejudicar essas pessoas o desagrada muito, mas, às vezes, não há como evitar. A já nasceu assim, pois não se lembra de ter vivido de forma diferente. Por isso, já se acostumou com a ideia de não pertencer a nenhum lugar e, ao mesmo tempo, pertencer a todos. Acontece que, em determinado dia, A acorda no corpo de Justin e conhece Rhiannon, sua namorada, e se apaixona por ela desde o primeiro momento. Essa história de amor poderia ser a coisa mais enjoativa e cansativa de todo o livro – se Levithan não soubesse escrever bem, mas ele sabe, e o relacionamento de A e Rhiannon passa a ser o elemento chave da obra, desenvolvida com uma sutileza e despretensão que eu adoro encontrar em livros. É como se, durante toda a história, durante todos os dias narrados por A, abríssemos nossos olhos em um corpo diferente, sem saber o que nos espera, e isso me deixou apreensiva. Pra ser sincera, o livro inteiro me deixou angustiada; cada capítulo consiste em um dia vivido por A, e, quando o capítulo acaba, não sabemos onde ele vai acordar, e isso é angustiante ao extremo.

     Como eu citei anteriormente, o relacionamento entre A e Rhiannon é o que desencadeia o enredo da obra, pois ele já se habituara com a vida que levava, até conhecer alguém que despertou nele o desejo de pertencer a algo. A partir daí, A faz de tudo para encontrá-la, dia após dia, não importando em que corpo esteja; tudo o que ele quer é estar com ela. Esse amor lindo e impossível comove o leitor e nos faz torcer por ele – embora saibamos, assim como o casal, que às vezes o amor não é o bastante.

     O que mais me agradou nessa história é o fato de A não ter gênero. Ele não é menino nem menina, e isso não importa, pois, como ele mesmo diz, se apaixona por indivíduos, não por gêneros. No momento em que percebi isso, confesso que o livro me ganhou. Para mim, não há ideia mais feliz do que essa. Saber que existe um autor que quis transmitir isso através de um livro faz eu me sentir melhor e, mesmo sem nunca ter lido outro livro dele, já gosto muito do David Levithan.

     Ao viver cada dia em um corpo diferente, A acaba conhecendo a realidade de um grande número de pessoas; o quanto elas são corajosas ou covardes, o quando tão felizes ou tristes. Mas, principalmente, percebe que cada uma delas tem algo único e de valor. Esses aspectos vão sendo percebidos pelo leitor ao longo da obra, e não vou comentar mais nada sobre eles. Vou deixar que leiam e percebam. E sintam.

     No início da resenha, comentei que essa ideia de um protagonista tão peculiar poderia dar muito certo, mas também muito errado. Fiquei feliz em perceber que deu certo. “Todo dia"  é mais uma prova de que existem ideias originais surgindo a todo instante. O autor constrói uma narrativa com sutileza e qualidade, sem exageros e com um final arrebatador. Uma experiência ímpar para quem gosta de histórias sensíveis e honestas.


TRECHO FAVORITO:

Na minha experiência, desejo é desejo, amor é amor. Nunca me apaixonei por um gênero. Apaixonei-me por indivíduos. Sei que é difícil as pessoas fazerem isso, mas não entendo por que é tão complicado, quando é tão óbvio.
p. 123


E vocês, já leram esse livro? O que acharam? Deixem a opinião de vocês nos comentários! 

Abraços e até mais!


15 comentários:

  1. Adorei tua resenha. Me deixou com mais vontade ler =)

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  2. Primeira resenha que vejo desse livro,fiquei bastante curiosa..quem sabe o leio esse ano.
    bjs e seu blog é lindo
    http://ateliedoslivros.blogspot.com.br/

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  3. Parece ser ótimo ♥ Curti a fan page !! http://gps-da-moda.blogspot.com.br/

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  4. "Todo Dia" é um livro FANTÁSTICO! Entrou para a minha lista de favoritos. Gostei da resenha. xD Também já fiz uma no meu blog. De Todo Dia, I mean. q Estou seguindo aqui e curti a página. :D

    http://tideofbooks.blogspot.com/

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    1. Concordo, Marcos! Um dos melhores que já li, com certeza!

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  5. Menina, todo mundo fala tão bem desse livro que eu tô pensando em comprar - mesmo tendo uma lista enooorme de não lidos, hehe
    Nunca li nada do autor e estou bem curiosa, principalmente com Todo Dia, que é diferente de tudo que eu já li, rs
    Beijão.

    www.missthay.com

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    1. Sim, é mesmo diferente de tudo que já lemos. Eu também estou com uma lista enorme de não lidos, mas passei esse na frente de todos e não me arrependi. hehehe.
      Beijos!

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  6. Oi Flávia!
    Adorei a resenha! Quero muito ler esse livro, parece ser incrível.
    Parabéns pelo blog!

    Bjs
    http://entreserieselivros.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Plínio!
      Obrigada! Esse livro é mesmo incrível!
      Beijos!

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  7. Flávia, esse livro acabou comigo de todas as formas possíveis. Tão lindo que nem consegui terminar a resenha. <3

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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    1. Pois é, Laura... Acabou comigo também, e aquele final... Meu Deus...
      Beijos!

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